Professor conta como ficou surpreso com seus alunos ao perguntar se salário motiva alguém. Leia mais!
Definitivamente, eu não aprendo. Outro dia fui cair na besteira de dizer aos meus alunos de Administração da Faculdade que salário não motiva ninguém e quase fui linchado. Um dia isso ainda vai acontecer. E será bem-feito para mim. Não é a primeira vez que digo isso e, mesmo tendo sempre a mesma reação da maioria dos alunos, continuo fazendo a mesma coisa. É como diz o ditado: o burro pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue.
Na verdade, a pergunta inicial, e que acabou incitando os protestos, foi sobre qual era o verdadeiro significado do trabalho na vida das pessoas. Pergunta tola, como se sabe, já que, como bem disse o primeiro da fileira, rindo muito, e no melhor estilo da Escolinha do Professor Raimundo: “Todo mundo aqui sabe que as pessoas trabalham pelo salário, para sobreviver”.
Olhei para o restante da turma, pois aquele “todo mundo aqui” comprometia o restante do grupo, buscando uma única alma que fosse capaz de se apresentar para desfazer o que penso ser um equívoco. (Minha esperança veio da lembrança de que até nos programas humorísticos, como o citado anteriormente, tem sempre um gênio de plantão para explicar, com pormenores, a resposta certa. “Eu queria ter um filho assim...”, como dizia o jargão do Chico Anísio).
Porém, diante do silêncio de todos, fui obrigado a continuar a olhar para o aluno da primeira fila que, sem vacilar, lascou uma nova observação, ainda mais contundente: “E o senhor, Professor. Vai me dizer que o senhor trabalha porque gosta?”. São de fato interessantes as perguntas que começam com “Vai me dizer...”, porque elas têm o poder de tornar o interlocutor um perfeito idiota, caso ele se arrisque a responder qualquer coisa: Vai me dizer? Eu não!
Como eu já me confessei burro e, como diz outro ditado, para burro velho, capim novo, resolvi continuar desafiando o corpo discente e respondi que sim. Sim, eu trabalho porque gosto. E daí? Ele riu novamente, e diante de sua autoridade de primeiro da fila, acabou concluindo que se eu trabalho porque gosto isso deve ser sinal de que também seria capaz de trabalhar de graça para alguém. Lógico que sim, por que não?
Tem muita gente aí que faz isso, caro pupilo. E tem mais: conheço gente que trabalhando de graça para alguém ou alguma instituição é muito mais feliz que muitos executivos que ganham milhares de dólares trabalhando para uma empresa com fins lucrativos. Perguntei a ele se alguma vez ele já tinha ouvido falar num sujeito chamado Betinho. Não, ele não conhecia o Betinho. Irmão do Hen... Esquece. Dona Zilda Arns. De novo, nenhum rosto se iluminou na classe. Arrisquei uma dica, na esperança de que alguém se lembrasse, dizendo que ela é irmã de D. Paulo Evaristo Arns. Afinal, não somos um país de maioria Católica? Dom o que? Esqueçam. Viviane Senna!!! Aí alguém disse: por acaso, ela não seria alguma coisa do Ayrton Senna? Isso!
Ela tem uma empresa que trabalha – nesse momento fiz questão de grifar a palavra “TRABALHA” com um grito, antes que alguém concluísse que o Instituto que ela dirige se trata apenas de um hobby sem importância que ela costuma utilizar para se divertir nas horas vagas. Eis aí um bom exemplo de pessoa, cara pálida, que trabalha por uma causa, por uma missão, por um significado maior do que simplesmente comprar e revender algo com lucro para o mercado ou em troca do salário no final do mês – nesse momento eu estava vociferando, não de ódio, mas de emoção – que é muito mais nobre e digno que o lucro!
Pois dizer que se trabalha por dinheiro seria como dizer que as pessoas vivem para respirar. Alguém aqui vive para respirar? 4 levantaram meio-braço. Respirei fundo e continuei: o oxigênio é importante, mas ninguém vive em função dele, espero. Aliás, já repararam que a gente só percebe que o ar existe quando falta? O mesmo acontece com o dinheiro. Entenderam? Novo silêncio. O dinheiro deve vir como conseqüência da aplicação inteligente de nossos melhores talentos, competências e valores. É isso que deve dar sentido para tudo aquilo que fazemos. O dinheiro...
Nesse instante, uma aluna levantou o braço direito e perguntou:
- Professor, são 9 horas. O senhor não vai fazer a chamada?
Por Gilberto de Moraes (psicólogo, coach, consultor e professor universitário. pós-graduado em planejamento estratégico de recursos humanos).
HSM Online
27/04/2009
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