 
                     Gestão
Grandes empresas também afundam
Shapiro questiona: “O que resulta da soberba nos negócios? E do sarcasmo?” Descubra aqui!
Grandes empresas também afundam
Shapiro questiona: “O que resulta da soberba nos negócios? E do sarcasmo?” Descubra aqui!
Era uma vez, uma grande rede de farmácias de uma grande e  distante cidade de interior, que era forte e poderosa. A rede seguia  religiosamente as orientações de um eminente consultor, venerado como um  antigo bam-bam no assunto. Certo dia, fomos contratados para avaliar  todo o quadro de pessoas e do negócio em si. Após quase dois meses de  rigorosa análise, concluímos e publicamos aos sócios que a mão-de-obra  era sofrivelmente despreparada e chegava a maltratar clientes como  reação ao modelo administrativo adotado. Mostramos matematicamente que  sem as devidas mudanças na gestão e na capacitação dos colaboradores até  o nível de atendimento esperado, as ameaças se transformariam em  vulnerabilidades à invasão do mercado por empresas mais eficazes.
O consultor de marketing discordou de nossa visão e induziu-os à  aquisição de um pacote de espaços na televisão regional para uma  propaganda feita com atores de terceira linha. Resultado? Três anos  depois, resta uma ou outra lojinha da rede ridiculamente ostentando a  antiga e poderosa logomarca – top de marca por anos seguidos! E bem ali,  exatamente nos pontos onde situavam suas maiores lojas, brilham as  maravilhosas e bem resolvidas centrais de venda do concorrente. Faturam  horrores. 
Quanto ao consultor, continua vendendo anúncios para outras empresas  que pensam que propaganda é a única solução para mazelas estruturais de  negócios mal conduzidos. Grandes corporações podem falir. Com frequência  ouvimos notícias de uma ou outra. E há aquelas de que nem ouvimos mais  falar. Não é estranho que isto aconteça a empresas com escritórios  cheios de gênios financeiros, diretores catedráticos – que são até  ex-consultores (sic!) – , gerentes que conhecem e resolvem tudo? Tanta  gente esperta, mas que não soube predizer o comportamento do mercado e  as causas do seu naufrágio!
Parece irônico, não? Todas elas tinham planejamento estratégico com  objetivos de curto, médio e longo prazos, programas de RH, marketing de  primeiríssima e produtos tecnologicamente atualizados. Suas equipes  faziam relatórios, mantinham indicadores de desempenho e promoviam  reuniões aparentemente úteis. Por que razão empresas tão bem  estruturadas caem na desgraça? Em uma só palavra: soberba. Mas há outras  razões: sarcasmo é uma delas. Leviandade é outra.
Muitos dos que resistiram à recente crise estão vendo os pedidos  crescerem novamente. A demanda parece aumentar. Depois de tudo o que  passaram, começam a acreditar que são deuses. Quando alguém de fora, com  um metro de visão além do que se vê internamente sugere algo que  agregue valor, os gestores onipotentes tratam logo de contradizê-lo,  questionando e tornando a visão insignificante.
O que resulta da soberba nos negócios? E do sarcasmo? O menu de  comportamentos é sempre o mesmo: desprezo a clientes, descumprimento de  prazos e outros compromissos. Aumento de preços a esmo, desvalorização  de representantes, e outros pecados mortais em negócios. Leviandade  punível de desgraça.
De fato, a crise financeira de 2008 provavelmente já acabou no Brasil  - como muitos, inclusive o governo, querem crer. Mas a crise econômica  vai agravar ainda mais – olhem para a Europa e os Estados Unidos. E tem  mais uma modesta observação. Existe uma terceira crise por trás de tudo  isto: é a crise da competitividade. Observe, e você verá uma constelação  de pequenas empresas conseguindo fortalecer suas marcas no ranking de  cada segmento. Estas aí estão crescendo, de fato, graças ao atributo  agilidade. As grandes, por sua vez, são analíticas demais, lentas,  maçantes e convencidas de que estão seguras.
Tem gente - antes insignificante - que aprendeu com a crise lições  muito mais eficazes que apenas sobreviver. Aprenderam a fazer parcerias  fortes, a investir em canais de vendas, a intensificar relacionamento  com clientes e a oferecer serviços confiáveis. Cuidaram da qualidade e  estão construindo uma imagem honrada perante o mercado enquanto grandes  riem e confiam numa garantia inexistente.
Calma, e você verá quem ri por último! Os dias de hoje requerem  grandeza de atitudes, e não de quantidade, volume ou números. Muitos  grandes estão afundando. Quanto a você, opte por estar entre os  melhores. E não entre os maiores.
Abraham Shapiro (Consultor e coach de líderes -  shapiro@shapiro.com.br)
HSM Online
30/06/2010
30/06/2010
 
 


